Por falar em figurino, vale discutir um pouco o figurino da novela A Favorita. Inicialmente considerado sem importância na trama, a cada dia se mostra mais relevante. Afinal a gente acaba usando o figurino para contar um pouco da estória. Como existia a dúvida entre quem era a vilã Donatella ou Flora. O figurino das duas era bem exemplo disso se comprova na sutil mudança de figurino da personagem Laura (Mariana Ximenes) a atriz consegue transmitir com perfeição o estilo das novas ricas do interior que, mesmo depois de endinheiradas, não perdem os trejeitos espalhafatosos e exagerados de quando não eram habituadas ao luxo.
A composição corporal de Cláudia é brilhante nesse papel. Só continua sendo difícil não ter a certeza de que ela é a vilã da história.
João Emanuel, aliás, foi ousado ao desenvolver uma história que não tem heroína e vilã predeterminadas. Pois esses são pontos de apoio para o público mergulhar na história e ter prazer em acompanhá-la.
Já que ele preferiu inovar com uma estratégia diferente - o que é sempre bom -, não pode temer mudar um pouco, só um pouco, o estilo que o consagrou em outra faixa de horário.Algumas decisões são tomadas com a intenção de não influenciar quem assiste à trama: é o caso dos figurinos das personagens de Cláudia Raia e Patrícia Pilar em A Favorita, novela atual da Globo. Como no final da novela uma delas será a vilã, ambas usam produções coloridas e passam longe de looks escuros. No caso do figurino de época, um cuidado a mais é tomado para que as roupas reproduzam o momento histórico retratado, mas passando por "uma reassimilação dos elementos para o olhar dos anos 2000", explica Marília, experiente neste tipo de novela. Cada produção tem um contexto, discutido entre autor, diretor e figurinista. No caso de A Favorita, a figurinista Marie Salles recebeu a seguinte orientação: "a roupa é apenas um pano de fundo, e não deve se sobressair, uma vez que se trata de uma novela realista." "É muito difícil fazer o real, o dia-a-dia. Costumo trabalhar com tendências e tento sempre botar uma pitada de fantasia, um detalhe de moda, mas nesta novela não posso fazer isso", fala Marie. No outro extremo está a novela Belíssima, que girava em torno do universo da moda. Por isso, sua figurinista, Georgia Sampaio (também conhecida como Gogóia), acabava colaborando também com a concepção da história. Para tornar a novela ainda mais fashion, ela contou com a ajuda de estilistas como Alexandre Herchcovitch, Walter Rodrigues, Reinaldo Lourenço e Houis Clos. Outra produção recente que vale ser citada é Queridos Amigos, também obra de Georgia, que usou praticamente todas as roupas originais da década de 80 (adquiridas em brechós), período em que se passava a trama.INSPIRAÇÃOE de onde vêm as idéias para compor os figurinos de todos esses personagens? Das mais variadas fontes, como filmes, livros e revistas antigos e novos, museus, desfiles, vitrines e internet. Marília Carneiro caminhava pela Oscar Freire quando viu em uma vitrine uma minissaia tão curta que lhe chamou a atenção, e logo pensou na Darlene, uma garota que fazia de tudo para subir na vida. No caso da Jade, uma personagem com o figurino bastante exótico, Marília lembrou-se que Yves Saint Laurent tinha uma casa no Marrocos, país onde se passava parte da trama, e foi buscar referências nas coleções passadas do estilista. Já o figurino da açucarada Da Cor do Pecado, que levou a assinatura de Georgia Sampaio, foi inspirado nos desenhos animados e histórias em quadrinhos. Por isso, foi todo desenvolvido a partir de cores primárias: vermelho, amarelo e azul. Para as atrizes, o figurino tem pesos variados. Cláudia Raia, a Donatela de A Favorita, acredita que é muito importante. "Dá uma grande ajuda na composição da personagem. Dependendo da roupa que se está usando, muda-se o comportamento, o gestual, a maneira de andar e de sentar." Já Mariana Ximenes, a Lara, também de A Favorita, acha que se deve compor a personagem de dentro para fora. Ela não tem predileção por papéis que exigem se vestir bem. "O que me interessa são as características da personagem. Procuro humanizá-la: quanto mais simples for, mais crível será para o público. O corpo é um instrumento de trabalho, por isso não me importo de cortar o cabelo, nem tenho tatuagens." Mariana parece ser uma exceção em um meio que mexe diretamente com a vaidade. Marília Carneiro diz que as atrizes se preocupam demais com o corpo e estão paranóicas com a questão da magreza, assim como com a idade a as rugas (será que são só elas?). Apesar disso, não vê dificuldade em lidar com as estrelas. "São pessoas normais que estão vestindo as roupas, e não modelos. Todos têm seus defeitos e grilos, e devemos respeitá-los." A veterana ensina seu método: "ofereço uma gama de opções para a atriz provar e brincar, até que ela se identifique com algumas das peças." Mas não deixa por menos: "é claro que a última palavra é sempre a minha, e ai de quem contrariar." Quem quiser saber mais sobre o tema figurinos de novela pode procurar pelo livro Entre Tramas, Rendas e Fuxicos - O Figurino na Teledramaturgia da TV Globo, Editora Globo, R$ 58,00.
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