domingo, 29 de agosto de 2010

Prazer visual

Conheci o trabalho da fotógrafa Kimiko Yoshida há uns dois anos atrás na Revista Zupi e fiquei super curiosa para conhecer a sua história pessoal...seu trabalho é baseado em auto-retratos onde a artista esconde o rosto, porém é muito marcante! Ela costuma usar o significado das cores em cada trabalho...mas, quem é essa mulher que nunca apareceu? (tão Cindy Sherman).... Kimiko (adoro esse nome)  tem uma história de vida muito triste.....
"Eu fugi do Japão, porque eu estava morta.  Meu refúgio na França foi para escapar desse luto. Um dia, quando eu tinha três anos, minha mãe me expulsou de casa. Saí segurando uma caixa cheia de todos os meus tesouros. Eu fui a um parque público. A polícia me encontrou lá no dia seguinte. Desde então, sempre me senti nômade, errante, fugindo. Quando cheguei à França, tive de aprender a língua como uma criança que acabara de nascer ". 
Mesmo afirmando que não tem pretensões de criar identidade com o seu trabalho, tudo nela é muito consistente...a forma como ela se "expõe" é uma verdadeira "impressão digital" (está entre aspas, porque é literalmente falando) e é impossível não reconhecer a autoria do seu trabalho..Nessa estética do apagamento, o efeito é inverso: quanto mais ela tenta se esconder, mais chama atenção...Não mostrar o rosto pode ser uma forma de sumir para aparecer! Aliás, acho que muita gente vive dessa forma, escondendo-se atrás de máscaras e tipos para ser reconhecido!
A primeira série de trabalhos dela (2003) era composta por 150 fotografias onde representava a si mesma como uma noiva, utilizando máscaras nupciais de várias culturas diferentes (essa escolha também deve ter um sentido e a pesquisa?)....

"Meu auto-retrato é minha vida. Eu desapareço no fundo. Não há busca de identidade no meu trabalho. Eu sei que a identidade não existe. São apenas as camadas infinitas de mim. Se eu descascá-las de volta, como a pele de uma cebola, não haverá nada por baixo".

Nesse segundo trabalho Kimiko aparece por vezes travestida de homem, hermafrodita, andrógina...onde expõe questões de identidade, integralidade e universalidade...dissimulada e composta ao mesmo tempo. O trabalho é inspirado no célebre ensaio do novelista japonês Taninzaki em Praise of Shadows..
Cada imagem conta uma história. Nessas obras é possível encontrar a ilusão de "a princesa de bambu", a heroína de uma conhecida lenda japonesa. Uma enorme carga emocional está escondida nos detalhes. A boca expressa um desejo, uma curva de lado é uma resistência. Cada cor tem seu próprio valor: - Azul é um símbolo de gelo, bem como um símbolo da morte e da eternidade; - Branco é um símbolo de pureza, mas também um símbolo da banalidade e busca de amor; Amarelo - é um símbolo do sol e da luz; - Vermelho é um símbolo da paixão, dor, sangue e materiais orgânicos.
Kimiko Yoshida nunca usa luz direta, e olha sempre para que algo especial, que normalmente existe nas casas japonesas.....as "noivas" que habitam um mundo misturado e multicultural...puro deleite visual para o nosso prazer!

1 comentários:

Ticy disse...

ameiiiiii o trabalho da Kimiko, e a historia de vida dela e surpreendnete!
parabens pelos post!

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